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na fogueira #3
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na fogueira #3

com Aleta Valente
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Hoje eu recebo Na Fogueira, ela mesma, ninguém mais ninguém menos que Aleta Valente, artista visual, mãe, feminista e, claro, cancelada. É difícil pensar em uma área onde mulheres são realmente bem vindas, mas nas artes o caminho mais fácil para uma mulher entrar em uma galeria é tirando a roupa - como modelo, não como artista. Kathleen Stock, em seu livro, Material Girls: Por que a realidade importa para o feminismo (p. 242), traz alguns dados que podem apoiar a minha afirmação.

Como revelou um levantamento do coletivo feminista Guerrilla Girls em 1980, “menos de 5% dos artistas nas seções de arte moderna são mulheres, mas 85% dos nus são femininos. Na Galeria Nacional de Londres, atualmente, existem cerca de dez pinturas a óleo de autoria feminina entre as 2.300 da coleção permanente.

No mercado de arte contemporânea, pinturas feitas por mulheres representam cerca de 2% das vendas. Na moda e na publicidade, em 2017, apenas 13,7% das capas de revistas de moda nos EUA foram criadas por mulheres, e diversas revistas femininas não contrataram nenhuma mulher para ensaios de capa.

Em 2016, lá no Modefica, eu também dei a letra: em uma indústria formada majoritariamente por mulheres, nas semanas de moda internacional mais importantes, menos da metade dos estilistas apresentando suas coleções eram mulheres. Se pegarmos as informações de outra indústria onde imagem é tudo, a da publicidade, apenas 29% dos funcionários são mulheres e 12% dos diretores de criação são mulheres.

Se a maior parte das pessoas criando a cultura que chega na mão das pessoas são homens, não espanta que, para todos os lados para onde olhamos, o que vemos é pura objetificação feminina responsável por reduzir mulheres a um produto, parcial ou totalmente desprovido de humanidade e consciência. Eu desafio qualquer pessoa a encontrar representações semelhantes em quantidade e forma à objetificação feminina e à alusão à violência que vemos na cultura contemporânea de sujeitos que compõe outros grupos sociais — como homens da classe trabalhadora, homens negros, homens gays e homens transidentificados como mulheres.

Se a maior parte das pessoas criando a cultura que chega na mão das pessoas são homens, não espanta que, para todos os lados para onde olhamos, o que vemos é pura objetificação feminina responsável por reduzir mulheres a um produto, parcial ou totalmente desprovido de humanidade e consciência.

Isso porque, como diz Stock, a mulher como um tipo de ideal visual “é perpetuamente representada como um conjunto de superfícies externas permutáveis por qualquer conjunto de superfícies de aparência semelhante, mas cuja vida interior é de importância insignificante”. A consolidação da compreensão mulher enquanto objeto portador de um determinado conjunto de aparências aceito como feminino em um determinada época no imaginário social e político é o que permite a ficção - misógina - de que homens que adotam um conjunto de aparências aceito como feminino em um determinada época são, de fato, mulheres.

Nos ambientes artísticos-culturais, onde a objetificação feminina é estruturante do próprio trabalho que se faz, se recusar a aceitar a redução das mulheres a um conjunto de elementos estéticos tem um preço alto. Aleta precisou ficar alguns meses em outra cidade com a sua filha por segurança. De volta ao Rio de Janeiro, a vida não ficou mais fácil, Aleta segue enfrentando ostracismo, agressão online, ameaças de morte, estupro e violência física. O que mudou de lá para cá, porém, é que o bonde rad se fortaleceu, Aleta encontrou apoio em outras mulheres e está tocando a vida para o desgosto dos canceladores. Dá um play e vem com a gente nesse papo.

Você pode acompanhar o trabalho da Aleta no @ex_miss_febem_.

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