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Vamos falar sobre sexo, baby!

Parte 1: Kathleen Lowrey, a Deusa-Mãe, o ciborgue e as grandes narrativas

Você já deve ter ouvido antropólogas e antropólogos endossarem todo o tipo de relativismo pós-moderno em torno da realidade material e ecológica dos humanos enquanto espécie de animal mamífero, entre elas que o sexo é construído da mesma forma que, digamos, a mandioca foi domesticada pelos indígenas (embora nenhum deles consiga me responder exatamente em qual momento da história os humanos criaram o sexo macho e fêmea dos primeiros homo sapiens), quem se opõe à ideia de que a medicalização permanente de corpos saudáveis é algo revolucionário só pode ser contra a legalização do aborto (porque realmente uma intervenção emergencial e a medicalização permanente são a mesma coisa [risos irônicos]) e as sementes criolas também sofreram transformações ao longo da história (então talvez nós não deveríamos nos importar com as sementes geneticamente modificas, como insiste o agro?).

Cada comparação é melhor que a outra e seria realmente inacreditável alguém ter passado oito anos ou mais em uma universidade para sair mandando dessas se nós não conhecêssemos a história da Ciência (com C maiúsculo, para demarcar seu caráter de abstração dominante do patriarcado capitalista) e o que ela sempre significou para as mulheres.


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Mas, nem tudo está perdido, meus jovens! Na newsletter de hoje, vocês podem assistir, com legendas em português, a primeira apresentação da mesa Let’s talk about sex baby! Why biological sex remains a necessary analytic category in anthropology (Vamos falar sobre sexo, baby! Por que o sexo biológico continua sendo uma categoria analítica necessária na antropologia).

A mesa foi escolhida para ser apresentada em um importante congresso de antropologia organizado pela Associação Americana de Antropologia (AAA) e pela Sociedade Canadense de Antropologia (CASCA), mas alguns meses depois de ser aceito, as debatedoras receberam o aviso do cancelamento do painel. Nada novo sob o sol, como não há argumentos contra a realidade, a alternativa é tentar enterrar quem pensa diferente com cancelamento e ostracismo.

Porém, a outra boa notícia é que estão surgindo organizações como a Heterodox Academy e projetos para combater a censura e auto-censura na academia dentro das universidades e de programas de pesquisa. Esse tipo de articulação tem servido tanto para re-plataformar debates e apresentações cancelados, como para ser espaço de diálogos e pesquisas importantes acerca da liberdade de pensamento e de pesquisa. Afinal, se pessoas podem publicar esse tipo de coisa e esse tipo de coisa em periódicos, porque não podemos falar e publicar sobre a realidade ecológica e biológica dos animais humanos, sobretudo das mulheres?

O cancelamento acabou ampliando o alcance do evento, que foi transmitido ao vivo gratuitamente no YouTube e agora está disponível para quem quiser acessar, e para vocês com legendas!

Começaremos com o primeiro painel e seguirei enviando os outros painéis para vocês ao longo do mês. A primeira painelista é Kathleen Lowrey, da Universidade de Alberta, autora do livro Shamanism and Vulnerability on the North and South American Great Plains (2020) (Xamanismo e Vulnerabilidade nas Grandes Planícies da América do Norte e do Sul) e autora dos volumes 1 e 2 de Enchanted Ecology: Magic, Science, and Nature in the Bolivian Chaco (2003) (Ecologia Encantada: Magia, Ciência e Natureza no Chaco Boliviano). Ela mesma, a antropóloga mencionada por Kathleen Stock na nossa conversa.

Lowry fala sobre grandes narrativas, como fomos da Deusa ao ciborgue, traz as descobertas de 2015 que mostram que Marija Gimbutas, arqueóloga lituana, conhecida por suas pesquisas sobre as culturas do Neolítico e da Idade do Bronze e pesquisas avançadas sobre a religião da Deusa mãe, estava correta e afirma compreender o cancelamento do painel como um sinal de morte lenta do relativismo pós-moderno que domina a antropologia há cinquenta anos.

Tá bom demais. Aproveitem e aguardem os próximos, pois só melhora. Lembrem-se de partilhar essa track com pessoas amigas para que a informação voe longe!

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lado b
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resenhas e entrevistas de interesse ecofeminista por Marina Colerato. escrevo sobre política, ecologia, transumanismo, Rojava e mulheres. à esquerda e avante.