lado b

lado b

Share this post

lado b
lado b
celibato como práxis feminista [parte 1]
tracks

celibato como práxis feminista [parte 1]

lado b, track 31

Avatar de marina colerato
marina colerato
mai 10, 2023
∙ Pago
17

Share this post

lado b
lado b
celibato como práxis feminista [parte 1]
2
5
Compartilhar

É raro ouvirmos sobre celibato (períodos temporários de abstinência sexual) como prática de liberação. Vivemos em uma sociedade pornográfica e obcecada com o sexo, porém quanto mais experienciadas são as mulheres no patriarcado, mais me parece que são capazes de entender o celibato como um tipo de práxis feminista. Sem dúvidas, há mais de um motivo pelo qual mulheres escolhem esse caminho. Muitas coisam devem ser consideradas, inclusive trauma referente ao abuso sexual na infância, não raro para quem nasce num corpo sexuado feminino. No meu caso, como parece ser o caso de várias mulheres que são heterossexuais ou bissexuais, tem a ver com o comportamento dos homens, claro. Mas não é só isso.

Falar sobre esse tema nunca me pareceu simples, pois há muitas nuances e experiências particulares. Ao mesmo tempo, existem também um tanto de experiências partilhadas que fazem mulheres pensarem sobre ou praticarem o celibato (ou ainda a assexualidade, ou seja, recusa sexual permanente) como escolha consciente. É por isso que essa track será divida em duas partes. A primeira, que vocês estão recebendo agora, é uma visão mais ampla acerca do tema, trago algumas curiosidades históricas bem como algumas referências e experiências anteriores para mostrar que não estamos falando de algo novo.

Compartilho também experiências pessoais e introduzo algumas perguntas e comentários de outras mulheres que recebi ao falar sobre o tema nas redes, e que também nos guiarão na parte dois. Apesar de serem mulheres de idades e realidades diferentes, algumas mães, outras bem jovens, outras heterossexuais, outras lésbicas, notei algumas similaridades em seus questionamentos e relatos e, no final, me parece que o que todas buscam de alguma forma nessa jornada é paz de espírito e saúde mental.

Nesse primeiro momento, o foco é a relação homem-mulher não limitada ao aspecto sexual-afetivo. Na parte dois, incorporarei algumas trocas que tive com mulheres lésbicas e algumas experiências pessoais em círculos exclusivamente femininos para argumentar que, inclusive por conta das questões estruturais, mulheres também têm muito trabalho pela frente porque o patriarcado capitalista produz ad nauseum uma sociedade repleta de pessoas, como diria Abdullah Öcalan, disfuncionais, independente do sexo (e na era das múltiplas verdades, isso ficou um tanto mais bizarro).

Fiquei me questionando sobre os objetivos de escrever sobre esse tema. Primeiro, entendo ser importante lançar luz a um tabu social, normalmente estigmatizado como “conservador” , e mostrar que há uma série de mulheres vivendo suas vidas muito bem, e na maioria das vezes de forma até melhor, mais “revolucionária” e mais sã do que mulheres em relacionamentos estáveis (ou ainda do que aquelas pulando de cama em cama em busca menos de sexo do que de aceitação) como celibatárias ou assexuadas por escolha. De forma ampla, isso desafia a lógica hipersexualizada da nossa sociedade e coloca a questão sobre quão saudável essa lógica poderia ser para as mulheres sob a ordem patriarcal. Muitas vezes e de várias formas, homens representam atraso na vida das mulheres e quanto mais mulheres tiveram noção disso melhor1.

Ao mesmo tempo, essa também é uma conversa sobre mulheres aumentarem suas réguas e mandarem pastar aqueles que não forem capazes de se comprometer com nada além do mínimo - e isso não só em se tratando de conexões sexuais-afetivas. Por exemplo, está nítida para mim a importância de mulheres não se aliarem a nenhum grupo que não seja capaz de se aliar a elas. Me parece que quanto mais repetimos esse erro, menos autonomia, sobretudo política, somos capazes de ter. Tenho total consciência que não temos controle sobre todas as coisas e, muitas vezes, estamos falando de uma falta de escolha. No entanto, quando a possibilidade de escolha existir, que sejamos capazes de escolher o que acreditamos que mais nos aproximará dos nossos objetivos maiores.

Continue a leitura com um teste grátis de 7 dias

Assine lado b para continuar lendo esta publicação e obtenha 7 dias de acesso gratuito aos arquivos completos de publicações.

Already a paid subscriber? Entrar
© 2025 marina colerato
Privacidade ∙ Termos ∙ Aviso de coleta
Comece a escreverObtenha o App
Substack é o lar da grande cultura

Compartilhar