É com muita alegria que colocamos no mundo o primeiro episódio desse bate-papo em formato de podcast!
O Papo de Fera surge como uma tentativa de trazer a público os papos teóricos entre nós duas de forma não somente a possibilitar uma maior disseminação da teoria feminista para outras mulheres com uma linguagem mais acessível, mas também de contribuir com a nossa própria formação através do exercício do diálogo e da troca de percepções.
O livro que escolhemos para essa estreia é Gênero, patriarcado, violência, da brasileira Heleieth Saffioti. Nascida em em Ibirá, interior de São Paulo, em 1934 e falecida em 2010, Heleieth Iara Bongiovani Saffioti foi uma socióloga marxista e professora universitária que esteve muito presente no movimento de mulheres no Brasil a partir dos anos 1970. Formada em Ciências Sociais pela USP no ano de 1960, torna-se professora na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UNESP, em Araraquara, ainda no final dos anos 1960.
Sua tese de livre docência, defendida em 1967, foi transformada no livro A mulher na sociedade de classes: mito e realidade, que foi um marco nas Ciências Sociais no Brasil e até hoje é considerada uma de suas maiores obras. A vasta bibliografia produzida pela autora, que foi muito ativa até a sua morte, fez minucioso exame da divisão sexual do trabalho em diversos setores da produção: desde o campo até o trabalho doméstico, evidenciando a situação precária na qual as mulheres foram inseridas dentro do modo de produção capitalista. Foi nos anos 1980 que a autora discorreu mais sobre a violência doméstica, tema de nossa primeira conversa, buscando vias de analisá-la sob um viés feminista e apresentar formas de combatê-la.
Lançado no ano de 2004, Gênero, patriarcado, violência era, inicialmente, parte de uma coletânea que resultou na pesquisa “A mulher brasileira nos espaços público e privado”, realizada pela Fundação Perseu Abramo e publicada em 2001 após vastos trabalho de campo e confronto de dados que duraram cerca de dois anos. No entanto, como a própria autora expõe, dada sua prolixidade ao tratar alguns temas, a sua contribuição excede os limites dessa pesquisa e toma forma própria através desse livro que, em suas quase 150 páginas nos apresenta o confronto de uma miscelânea de ideias que pipocavam na academia àquela altura. Vale pontuar também que a versão que utilizamos em nossa leitura foi a 2ª edição, lançada em São Paulo no ano de 2015 pela editora Expressão Popular.
As ideias principais da autora giram ao redor dos conceitos que dão nome ao livro: gênero, patriarcado e violência. Escolhidos a dedo por Heleieth Saffioti a fim de aproveitar a toada da pesquisa realizada três anos antes do lançamento do livro, esses conceitos passam por um profundo exame que coloca em evidência os interesses por trás do crescimento que o conceito de gênero passa a ter dentro do ambiente acadêmico ao mesmo tempo em que o conceito de patriarcado passa a ser colocado de lado. O que tudo isso tem a ver com os esforços da máquina patriarcal para desarticular o movimento de mulheres e garantir o salto de acumulação necessário para a manutenção desse modo de produção? Vamos descobrir!