Lado B

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📌Painel de Refs [Dezembro 1]
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Painel de Refs

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"tesudos de todo mundo, uni-vos" - chegou seu lado b semanal

Marina Colerato
Dec 5, 2021
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🎶  MÚSICA

Esse painel tá combinando com o artista mais tocado no meu Spotify esse ano: Morcheeba. Vamo com a música mais tocada do artista mais tocado para vocês pegarem o mood.

📃 TEXTO DA SEMANA

As organizações Algorithm Watch e EDJNet - European Data Journalism Network passaram algum tempo pesquisando sobre sexualização dos corpos e viés do algoritmo no Instagram e descobriram que “postagens contendo fotos de mulheres em roupas íntimas ou biquínis tinham 54% mais probabilidade de aparecer no feed de notícias dos voluntários. Postagens contendo fotos de homens com o peito nu têm 28% mais chances de serem exibidas. Por outro lado, as postagens que mostram fotos de alimentos ou paisagens têm cerca de 60% menos probabilidade de serem exibidas no feed de notícias”. Embora eles não tenham falado sobre Stories, imagino que os resultados não seriam muito diferentes.

Que a completa objetificação dos corpos, sobretudo das mulheres, vende/engaja não é algo novo. Mas, na era do homem-empresa (ou empreendedor de si), há de se considerar os perigos desse viés para os sujeitos e suas subjetividades, sobretudo femininas. O problema - e em certa medida o perigo - sublinhado pela pesquisa está no próprio nome: undress or fail, algo como: dispa-se ou fracasse. Na sociedade da “pjtotização” e do profissional-influenciador, o fracasso do engajamento pode significar o fracasso do negócio. Para as mulheres, como mostram os dados, a pressão para tirar a roupa - do jeito e na medida certa - é ainda maior.

Há questões ainda mais complexas nesse debate, como o impacto disso para as mulheres e a relação conflituosa que pode nascer quando a linha fica tênue demais. Como meninas e garotas têm sua formação e comportamento influenciados por essa lógica dos algoritmos? No limite da generalização, a pergunta talvez seria: quais as consequências da total mercantilização dos corpos em uma sociedade pornográfica e esvaziada do erótico? Dúvida que nos leva ao podcast da semana, então continua descendo esse buraco comigo.

🎧 PODCAST DA SEMANA

As consequências são horríveis, claro - e moldam essa sociedade do cansaço, do controle, do desempenho e da performance - tudo tão artificial e monitorado como num filme pornô. Esse mato tá cheio de coelho e o último ep. do podcast Vibes em Análise me pareceu perfeito para gente se ligar que o rolê tá louco e há muito trabalho a ser feito.

A morte do desejo talvez seja inevitável para sujeito do burnout, enquanto a depressão e a ansiedade são seu destino final em meio à banalização do gozo. Trazendo Byung-Chul Han, é o estado de tédio quase permanente engendrado pela cultura do gozo(-miojo), da conveniência e do estímulo pornográfico. Se tudo não foi feito, com certeza tudo já foi visto. Me parece então um outro lado do fim da história com toda sua incapacidade imaginativa. Nesse sentido, a morte da política decretada pela convicção de que “não há alternativa” coaduna com a falta da imaginação, de conflito e de tensão necessários ao erótico.

No entanto, há de se fazer um alerta a um olhar freudiano ortodoxo dos psicanalistas, que falha em algumas coisas, entre elas não mencionar que tanto o prazer como o gozo (inclusive objetivamente falando) nunca foram equivalentes entre homens e mulheres pelas limitações impostas pelo capitalismo-patriarcal à autonomia feminina, inclusive em relação ao próprio gozo.

Nesse sentido, quando ouço mulheres héteros relatando sistemáticas experiências com homens meia-bombas - tanto em termos de sexo quanto em termos de presença - me parece que grande parte desse gozo gozado é porra e os homens, ensimesmados em seus afetos, estão como que empanturrados e esgotados de si, incapazes de qualquer alteridade.

Enquanto isso, muitas mulheres (junto com aqueles e aquelas que nunca puderam gozar) seguem desejantes. Experenciadas sabemos, porém, que é preciso cuidado para não deixarmos o mercado esgotar, neutralizar e despolitizar esse desejo. A autonomia buscada pelo movimento feminista, inclusive no campo do sexo e da sexualidade, assim como não foi satisfatoriamente alcançada com a pílula anticoncepcional, não será conquistada com a “democratização” dos sugadores de clitóris - por mais incrível que eles sejam. O erro é justamente reduzir o gozo à genitália já que para tanto se faz urgente matar o tesão. Nesse sentido, é preciso a tal radicalidade, que o feminismo mainstream e performático tanto demoniza quanto desconhece.

Afinal, politizar a sexualidade não é missão única dos psicanalistas como filósofos, sociólogos, antropólogo e tantos “ólogos” já sinalizaram. Pode ser, inclusive, ir contra à psicanálise, ou melhor, a um certo tipo de psicanálise e sobretudo à psiquiatria. A questão do sexo e da sexualidade é, obviamente, uma questão política.

🗞 TEXTÃO DA SEMANA

“Muito antes das inscrições na parede da Sorbone, Reich alertou que para ser um revolucionário é preciso fazer amor com muita frequência”, notou o marxista-libertário Daniel Guérin em “Um ensaio sobre a revolução sexual”. A partir de Reich, o anarquista brasileiro Roberto Freire, autor, médico psiquiatra, militante e um dos fundadores do TUCA, diria algo parecido: “sem tesão não há solução”.

Se Reich e Freire não viveram o suficiente para chegar na era pós-tesão, nós vivemos e podemos confirmar, pela experiência, que a escassez de tesão e de revolução são reais. Ou melhor, a escassez do tesão pôs em fluxo uma revolução muito diferente, onde os adversários do tesão se fortalecem.

Em sua dissertação de mestrado, Gustavo Simões faz um trabalho interessante de análise da obra de Roberto Freire, colocando logo no início da pesquisa a dúvida latente posta por Foucault em “Introdução à vida não-fascista”, na introdução de Anti-Édipo, de Deleuze e Guattari, cuja pertinência segue inquestionável ainda hoje: “como introduzir o desejo no pensamento, no discurso, na ação? Como o desejo pode e deve desdobrar suas forças na esfera do político e se intensificar no processo de reversão da ordem estabelecida?”.

Retomando nosso ponto de partida, como impedir esse excesso de gozo fálico, centrado em si, por si e para si, de matar de vez o tesão, a política e a condição material essencial para toda forma de vida na Terra? Escapando da solução única e convidando vocês a essa leitura, as pistas estão em Guattari: “é necessária uma reconstrução das engrenagens sociais que responda aos destroços provocados pela proliferação de subjetividades capitalistas. Essa reconstrução passa menos por reformas de cúpula, leis, decretos, programas burocráticos do que pela promoção de práticas inovadoras”.

Ecoarei Freire para encerrar: tesudos de todo o mundo, uni-vos!

🐂 MELHOR ARROBA

O insta do Breno, que faz os quadrinhos semanais “Fita Isolante” para editora Elefante.

parabrisadeluneta
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🔥 NOT SAFE FOR WORK

Não lembro se já compartilhei com vocês o trabalha da @alphachanneling, já?

alphachanneling
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Até a próxima,
Marina Colerato 

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