Lado B

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lado b, track 12

sentir-se enlouquecendo é diferente de enlouquecer

Marina Colerato
May 4, 2021
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para ouvir enquanto lê:


Cecilia Costa, Sem Título, 2009.

Respirar fundo é agonizante quando parece não haver ar o suficiente para inspirar. Não é falta de oxigênio, é a retração do espaço onde se está. As paredes se aproximam, mesmo sem se moverem. Na janela, no jardim, na varanda; todo lugar se mostra exaurido e incapaz de contribuir com qualquer tipo de vida. 

“Apenas respire, vai passar. Vai passar. Vai passar”; 

A repetição é uma estratégia de convencimento. 

“Vai passar”. 

Estar nesse lugar é como observar forçosamente e bem de perto um precipício dentro de si; na hora, junta-se todos os pedaços de força e fé espalhados para evitar a queda. É um ato apressado e desesperado, igual quando você precisa pegar algumas coisas e sair correndo. 

Recorro às memórias para relembrar as rotas de emergência. Antes de abrir as gavetas, porém, reforço:

 “Vai passar”. 

Volto a 2019, a 2010, a 2002. Mas não há caminhos rascunhados. Não é o pânico, nem a dor aguda que encontra no autoflagelo uma forma de alívio. É a completa desesperança em resgatar a sanidade. É a simbiose entre o vazio e a falta, que vai sedimentando o sentimento de ter sido destituída de si, transformando a sensação em certeza.

Sentir-se enlouquecendo ao invés de simplesmente enlouquecer. 

.

“Como estou inquieta. O corpo no lugar, a mente sem raízes. E um medo corrosivo de que nada mais será o mesmo”, compartilha Patti Smith em sua pequena história de (in)sanidade seriada. 

Um medo corrosivo de que nada mais será o mesmo. “Se essa mulher está derretendo, quem sou eu para não estar?”. Me permito certa condescendência. Tenho me permitido algumas, mas talvez agora não seja o melhor momento para mudança de planos.

Em horas, estou de malas prontas. Agradeço à Deusa pela liberdade e oportunidade. Entre os recursos de sobrevivência está encarar a imensidão do mar para resistir à pequenez da loucura particular. 

.

Respiro fundo;

“Viu? Em certa medida, passou”.

“Em certa medida”.


Até a próxima,
Marina Colerato 

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