🎶 MÚSICA
Sempre tem aquela música que fica no repeat da vez, né? O que tá tocando muito aqui é a faixa que abre o novo álbum da banda de indie rock inglesa, Black Honey. Me lembrou The Kills e shows dançantes em casas noturnas abarrotadas.
📃 TEXTO DA SEMANA
Há não muito tempo, compartilhei no insta sobre esse lance de cessar um relacionamento (sexual-afetivo, mas poderia ser de amizade também) e continuar orbitando na vida do outro por meio das redes sociais. Isso, me disseram, se chama orbiting (literalmente, orbitando).
O orbiting normalmente acontece depois do orbitado tomar um ghosting. O ghosting é quando uma pessoa interrompe um relacionamento por meio do silêncio, ou seja, simplesmente nunca mais aparece. Os contatos cessam e normalmente isso acontece do nada, sem que o outro possa saber o que diabos aconteceu. Há quem dê ghosting e bloqueie a pessoa em tudo e há aqueles que seguem acompanhando todos os passos do outro nas redes.
Foram variadas as respostas à minha indignação pública com o orbiting. As opiniões que recebi sobre o que poderia justificar aquele comportamento variavam, mas ninguém imaginou que o problema seria mais complexo do que parece. Não é tão simples quanto “não quer se comprometer”. É, na verdade, uma personalidade marcada por traços de narcisismo, maquiavelismo e psicopatia. Não coincidentemente, é percebida mais em homens.
Essas conclusões não são minhas. São da pesquisa “Leaving without a word: Ghosting and the Dark Triad traits”, que poderia ser traduzido em algo como “Sair sem dizer uma palavra: Ghosting e os traços da Tríade Negra1”. Me encaminharam esse trabalho justamente porque havia compartilhado sobre o tema e calhou que me serviu como uma luva. A “normalização” de um comportamento tão disfuncional me preocupa - tanto por parte dos analistas quanto por parte dos praticantes. Simplesmente não pode ser possível que achemos que praticar ghosting seja algo bom, tampouco “natural”, e que tal comportamento deva ser não só praticado como incentivado.
Certa vez ouvi uma militante de esquerda marxista dizendo que o ghosting deveria ser normalizado. Bem, eu não posso acreditar que uma prática que falta com o diálogo e com a responsabilidade para com o outro (não é segredo que encerramentos são essenciais para lidarmos com qualquer tipo de perda, por menor que seja) possa existir, ou pior, ser normalizada, entre aqueles e aquelas que visam uma sociedade comunista. Camaradagem e companheirismo ficaram onde?
O estudo afirma o seguinte: “descobrimos que (1) aqueles que relataram já ter dado ghosting em alguém no passado (vs. aqueles que não o fizeram) acharam o ghosting aceitável e eram mais maquiavélicos e psicopáticos, (2) o ghosting era mais aceitável a curto prazo (vs contexto de longo prazo, especialmente para aqueles que já haviam praticado ghosting com alguém, e (3) aqueles com alto nível de traços da Tríade Negra classificaram o ghosting como mais aceitável para encerrar relacionamentos de curto prazo, mas não os de longo prazo.
Também descobrimos que as correlações entre aceitabilidade e a prática do ghosting com parceiros de curto prazo e os traços da Tríade Negra foram localizadas em homens narcisistas com um efeito semelhante, embora fraco, para psicopatia. Os resultados são discutidos em relação a como o ghosting pode ser cometido principalmente por pessoas interessadas em sexo casual, onde o investimento é baixo e pode ser parte das estratégias de histórias de vida rápidas ligadas aos traços da Tríade Negra.
[…]
Aqueles caracterizados por narcisismo e psicopatia podem ter atitudes que permitem o estupro, envolver-se em coerção sexual, e cometer agressão no relacionamento. Aqueles com alto nível dessas características parecem preferir outros que são como eles como parceiros românticos, mas "sofrem" por essa escolha com menos satisfação no relacionamento. Parece que aqueles que são caracterizados por esses traços têm uma abordagem egoísta, causal e até exploradora dos relacionamentos.
Embora seja necessário mais trabalho, podemos concluir que ghosting é considerado aceitável por pessoas, homens em particular, com altos traços da Tríade Negra ao tentarem se livrar de relacionamentos de baixo investimento”.
Será que assim a gente para com essa patifaria de normalizar o ghosting?
🔲 GALERIA DE INSTA
Uma pauta importante que pipocou nas redes entre a semana passada e essa foi o debate sobre masculinidade. Muitas feministas compartilharam análises pertinentes sobre o que é masculinidade e como ela opera enquanto dispositivo de poder patriarcal. Então ao invés de uma galeria da semana, temos duas indicações de galeria. Além da que você pode conferir abaixo, tem essa aqui, mais essa postagem aqui. De quebra, também vou aproveitar e indicar o livro “Amar Para Sobreviver”, da Dee L. R. Graham, publicado no Brasil pelo editora Cassandra. Eu ainda não li, estou esperando o meu, mas nessa toada a dica é válida para quem quer entender mais sobre dominação masculina.
🎥 FILME DA SEMANA
Falar de Marighella seria chover no molhado, né? Então, obviamente, indico que todas as pessoas assistam o filme. Também falei sobre esse texto do Saflate, Ler Marighella, caso você tenha perdido a publicação no Instagram. Mas vim falar de outro filme, Identidade, disponível na Netflix e com pretensões ao Oscar. Não vou me prolongar porque não sou nenhuma crítica de cinema, então deixo essa análise do Caio Colleti no Omelete para quem quiser saber mais sobre o porquê me pareceu uma boa dica.
🎧 PODCAST DA SEMANA
O ep. chamado “psicanálise antirracista”, do podcast da Float.
🔥 NOT SAFE FOR WORK
Estudos de corpo e movimento, é um pouco isso que me lembra o trabalho relativamente safe for work do ilustrador espanhol. Apesar de completamente diferente, me remete, de alguma maneira, ao trabalho da arquiteta Noa Eshkol, que vi na Bienal. A partir de estudos sistemáticos dos movimentos, ela criou coreografias nas quais a dança, sem depender do andamento da música e do figurino, se torna um processo de interação do corpo com o espaço e com outros corpos, além de atividade comunitária. A título de curiosidade, a exposição Noa Eshkol: Corpo Coletivo, que rolou na Casa do Povo, mostrou os bastidores do trabalho que vimos na Bienal.
Até a próxima,
Marina Colerato
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A tríade negra, também chamada de tríade obscura ou sombria, compreende os traços de personalidade do narcisismo, maquiavelismo e psicopatia.
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